quarta-feira, 27 de agosto de 2008






Tilonorrinco, meu musinho, não podes ir assim tão longe e deixares teu bem sem o aroma das orquídeas.


Esse ninho costuma ficar intensamente frio depois do pôr do sol.
No interior do interior. Sem se preocupar em ser achado. Viu uma luz forte. Parecia querer lhe ajudar. Mas, então, cegou!

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Quantas idéias loucas nos corações de vinte e poucos anos. Inevitável dizer: essa loucura os torna aptos a fazer sossegar a esfinge que os tenta devorar.


Quantas idéias loucas nos corações de vinte e poucos ao anos. Inevitá vel dizer: essa loucura os torna aptos a fazer sossegar a esfinge que os tenta devorar.
Tocados pela modernidade, sobem e desce escadas. Indiferentes, intocáveis, passam. Vêem vultos, coisas. Sentem vultos e coisas. Tocam os vultos e as coisas. Magoam os vultos e as coisas. a modernidade os impede de ir além. Os jardins se misturam imóveis aos passos apressados. Felizes os que não se deixaram tocar pela fria modernidade com sua pressa, com sua indiferença, com sua poesia desbotada.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O fim do mundo

Era propício. Tudo caminhava para o encontro das águas. No entanto, como se pudesse desobedecer a lei natural, tudo estagnou. Como se fosse racional fazer o mundo parar, baixaram as cortinas e eram vermelhas. E foi anunciado o fim do espetáculo. As luzes não voltaram a brilhar e ninguém entrou para o segundo ato. Nem figurantes, nem secundários, nem o protagonista. Nem memso os que fariam entrar o segundo ato. Tal fora o impacto causado pelas cenas daquela inesquecível noite de Abril.

domingo, 24 de agosto de 2008

Os Olhos dos Pobres

Quer saber por que a odeio hoje? Sem dúvida lhe será menos fácil compreendê-lo do que a mim explicá-lo; pois acho que você é o mais belo exemplo da impermeabilidade feminina que se possa encontrar.

Tínhamos passado juntos um longo dia, que a mim me pareceu curto. Tínhamos nos prometido que todos os nossos pensamentos seriam comuns, que nossas almas, daqui por diante, seriam uma só; sonho que nada tem de original, no fim das contas, salvo o fato de que, se os homens o sonharam, nenhum o realizou.

De noite, um pouco cansada, você quis se sentar num café novo na esquina de um bulevar novo, todo sujo ainda de entulho e já mostrando gloriosamente seus esplendores inacabados. O café resplandecia. O próprio gás disseminava ali todo o ardor de uma estréia e iluminava com todas as suas forças as paredes ofuscantes de brancura, as superfícies faiscantes dos espelhos, os ouros das madeiras e cornijas, os pajens de caras rechonchudas puxados por coleiras de cães, as damas rindo para o falcão em suas mãos, as ninfas e deusas portando frutos na cabeça, os patês e a caça, as Hebes e os Ganimedes estendendo a pequena ânfora de bavarezas, o obelisco bicolor dos sorvetes matizados; toda a história e toda a mitologia a serviço da comilança.

Plantado diante de nós, na calçada, um bravo homem dos seus quarenta anos, de rosto cansado, barba grisalha, trazia pela mão um menino e no outro braço um pequeno ser ainda muito frágil para andar. Ele desempenhava o ofício de empregada e levava as crianças para tomarem o ar da tarde. Todos em farrapos. Estes três rostos eram extraordinariamente sérios e os seis olhos contemplavam fixamente o novo café com idêntica admiração, mas diversamente nuançada pela idade.

Os olhos do pai diziam: “Como é bonito! Como é bonito! Parece que todo o ouro do pobre mundo veio parar nessas paredes.” Os olhos do menino: “Como é bonito, como é bonito, mas é uma casa onde só entra gente que não é como nós.” Quanto aos olhos do menor, estavam fascinados demais para exprimir outra coisa que não uma alegria estúpida e profunda.

Dizem os cancionistas que o prazer torna a alma boa e amolece o coração. Não somente essa família de olhos me enternecia, mas ainda me sentia um tanto envergonhado de nossas garrafas e copos, maiores que nossa sede. Voltei os olhos para os seus, querido amor, para ler neles meu pensamento; mergulhava em seus olhos tão belos e tão estranhamente doces, nos seus olhos verdes habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando você me disse: “Essa gente é insuportável, com seus olhos abertos como portas de cocheira! Não poderia pedir ao maître para os tirar daqui?”

Como é difícil nos entendermos, querido anjo, e o quanto o pensamento é incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!

Charles Baudelaire
Extraído do site Poemas e Contos de Baudelaire